Operação da Decon busca cumprir quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão
A Polícia Civil do Rio prendeu um dos sócios do laboratório de análises clínicas PCS LAB Dr. Salame, com sede em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na manhã desta segunda-feira. A Delegacia do Consumir (Decon) realiza a operação Verum após a comprovação da emissão de laudos fraudulentos que resultaram no transplante de seis órgãos contaminados com HIV para pacientes. Walter Vieira é um dos suspeitos de envolvimento nestes resultados, que teria assinado um dos laudos. A visa cumprir, ao todo, quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Nova Iguaçu e na capital. As investigações indicam que os laudos foram falsificados por um grupo criminoso e usados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro. Isso levou os pacientes a serem contaminados. Um deles morreu — as causas do óbito ainda estão sendo apuradas.
Além dos casos dos transplantes, existe a suspeite de que o PCS LAB Dr. Salame tenha falsificado laudos em outros casos além dos transplantes, afirma a Polícia Civil. Segundo a corporação, diligências complementares estão sendo realizadas para identificar toda a cadeia de profissionais envolvidos no esquema criminoso. Os envolvidos são investigados por crime contra as relações de consumo (art. 7º, inciso VII da Lei 8.137/90), associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária, entre outros.
O laboratório PCS Lab Saleme, responsável pelos exames de análises clínicas na Central Estadual de Transplantes, também atuava em ao menos outras 12 unidades de saúde estaduais, como hospitais, institutos, UPAs e centros especializados.
Walter Vieira é marido da tia do ex-secretário de Saúde e deputado federal Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, o Doutor Luizinho (PP). Outro sócio do PCS Lab Saleme também é parente do parlamentar: Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira é primo dele e já foi empregado da Fundação Saúde. A irmã de Luizinho, a dentista Débora Lúcia Teixeira Medina de Figueiredo, é diretora na Fundação Saúde, empresa responsável pela escolha do laboratório. A contratação aconteceu três meses depois que ele deixou a secretaria e é investigada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), para verificar se houve irregularidades. Denúncia
A denúncia sobre o transplante de órgãos contaminados com HIV foi feita na sexta-feira, pela BandNews. Com diversas irregularidades, o laboratório foi interditado pela Anvisa e pela Vigilância Sanitária estadual no último dia 4. Três dias depois, um dos sócios enviou um ofício à Fundação Saúde informando que tinha feito melhorias.
Segundo mostrou o “Fantástico”, o laboratório clínico não possuía licença para funcionar dentro do instituto onde a paciente que recebeu os rins foi atendida, na Zona Sul. A vistoria mostrou ainda que as amostras de sangue estavam sem identificação, não foram apresentados registros de treinamento dos funcionários, o material era armazenado em uma geladeira comum, e os aparelhos de ar condicionado estavam malconservados e sem condições de higiene.
O laboratório PCS Lab Saleme, responsável pelos exames de análises clínicas na Central Estadual de Transplantes, também atuava em ao menos outras 12 unidades de saúde estaduais, como hospitais, institutos, UPAs e centros especializados.
De acordo com a Secretaria de Saúde, em outubro de 2023, venceu um pregão eletrônico para prestar serviço de análises clínicas em unidades geridas pela Fundação Saúde, órgão vinculado à Secretaria estadual. De acordo com o Portal da Transparência, mais de R$ 21 milhões foram pagos à empresa desde 2022, entre parcelas dos contratos e termos de ajustes de contas.