SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As vacinas da AstraZeneca contra a Covid não apresentam nenhum risco à saúde para aqueles que já tomaram os imunizantes, dizem profissionais de saúde ouvidos pela Folha de S.Paulo. De acordo com a empresa, a retirada dos imunizantes da Europa seguiu questões comerciais.
Como foram desenvolvidas múltiplas vacinas contra variantes da Covid, diz a companhia, há um excedente de imunizantes disponíveis. Isto levou a um declínio na procura de Vaxzevria (nome comercial do imunizante), que já não é mais fabricada nem distribuída. Pela dinâmica da pandemia, a AstraZeneca optou por não atualizar o imunizante para as novas variantes do vírus.
A AstraZeneca fez o pedido de retirada da vacina do mercado na Europa no dia 5 de março. No dia 27 do mesmo mês, a Comissão Europeia notificou que o pedido tinha sido concedido e liberado a partir desta última terça-feira (7).
No Brasil, a produção é de responsabilidade da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Em nota, a entidade disse que a vacina Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fiocruz no Brasil, foi utilizada durante a pandemia seguindo orientação e recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), e foi considerada uma estratégia eficaz para salvar vidas em um momento de alto risco de doença grave.
No entanto, o imunizante já não é recomendado pelo Ministério da Saúde como reforço desde o ano passado, devido a um risco aumentado de trombose trombocitopênica apenas nos dias após a vacinação.
Em nota técnica de 2022, o Ministério limitou o uso das vacinas de vetor viral para os grupos com melhor perfil de segurança, como as pessoas acima dos 40 anos. Desde então, a pasta parou de adquirir e distribuir essas vacinas e deu preferência a outras.
Portanto, quem tomou a vacina e não teve nenhum efeito adverso na época não deve se preocupar, diz a imunologista Fernanda Grassi, da Fiocruz Bahia.
“Essa síndrome é extremamente rara e não acontece com qualquer pessoa, só com aquelas que têm algum tipo de predisposição genética a desenvolver esse tipo de trombose, logo após a vacinação. A própria Covid já é uma doença que é uma causa de trombose muito maior. Com a vacina, você se protege mais contra a doença do que se não tomá-la”, afirma.
A síndrome ocorre pela formação de coágulos no sangue junto a uma quantidade muito baixa de plaquetas, células que atuam na coagulação sanguínea. Se não tratada e identificada rapidamente, ela pode ter consequências potencialmente mortais.
Em 2021, a EMA (agência de medicamentos europeia, na sigla em inglês, que regulamenta drogas no continente) identificou pelo menos 142 casos da síndrome, em um universo de mais de 21 milhões de doses aplicadas.
O risco de desenvolvimento desse tipo de trombose -recentemente reconhecido pela AstraZeneca perante a justiça britânica- acontece em, em geral, com vacinas de vetor viral, não apenas no caso da Vaxzevria. Países como Estados Unidos, Brasil e do continente europeu passaram a optar pelas vacinas de RNA mensageiro, como é o caso das vacinas da Pfizer e da Moderna.
Na Fiocruz, desde 2021 há o investimento de esforços no desenvolvimento de uma plataforma de vacinas de RNA mensageiro. A organização foi selecionada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como centro de desenvolvimento e produção de vacinas de RNA mensageiro.
Essas, por sua vez, também não está livres de riscos: há casos de miocardite (inflamação na parede do coração) associados a elas.
“Não tem nenhuma surpresa. Na lógica das recomendações, analisa-se o risco e o benefício. O número de vidas salvas é muito maior que o número de eventos adversos. Hoje, as vacinas de vetor viral são mais raramente usadas, mas já foram importantíssimas, salvaram milhões de vidas”, afirma o infectologista Renato Kfouri.
Segundo a AstraZeneca, mais de 6,5 milhões de vidas foram salvas só no primeiro ano de utilização e mais de três bilhões de doses foram distribuídas a nível mundial.
“Essa era basicamente a vacina que a gente tinha, salvou muitas pessoas. Na época, as vacinas com RNA mensageiro demoraram para chegar e o Ministério da Saúde do governo passado não gostava. Tudo depende de mercado, assim como existem outras vacinas contra Covid que nunca foram usadas no Brasil”, finaliza a imunologista Isabella Ballalai.