Sequestrador de mulher de herdeiro se passava por policial federal para ganhar confiança da família, diz delegada

A delegada Cristiana Onorato disse que Lourival, preso pelo sequestro, era amigo da família e fingiu negociar com sequestrador. Para a polícia, o crime foi premeditado por ele. Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou 4 pessoas, e a Justiça aceitou a denúncia. Sequestrador de mulher de herdeiro se passava por policial federal para ganhar confiança da família, diz delegada
A delegada que investiga o sumiço de Anic de Almeida Peixoto Herdy afirmou, em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, que Lourival Correa Netto Fadiga, preso pelo sequestro, era amigo da família e se passava por policial federal para conseguir a confiança dos herdeiros. Com isso, ele trabalhava como segurança dos familiares.
Segundo a delegada Cristiana Onorato Miguel, foi comprovado que ele não fazia parte da corporação. A polícia também aponta que com os R$ 4,6 milhões que foram pagos pelo sequestro, ele comprou veículos de luxo e negociou a compra de 950 aparelhos celulares.
Como o Fantástico deste domingo (19) mostrou, Anic não é vista desde 29 de fevereiro, quando estacionou na Rua Teresa, em Petrópolis, e seguiu a pé.
No mesmo dia, o marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, de 78 anos — herdeiro de um grupo que administrou universidades no Rio de Janeiro —, recebeu uma mensagem alertando que a mulher estava sequestrada e só seria solta mediante um resgate de R$ 4,6 milhões. O valor foi pago e a mulher não apareceu.
Além disso, a delegada diz que a investigação mostrou que Lourival dizia estar negociando com o sequestrador de Anic. Mas, a polícia acredita que ele era o próprio sequestrador.
Um dos indícios para a investigação é que não há conexões do celular de Lourival com o do sequestrador. A localização do celular do suspeito indica uma concessionária de veículos no mesmo dia em que o resgate foi pago.
“A Anic tinha amizade com o Lourival e frequentava a casa da família. Ele dizia que era policial federal e tinha total confiança deles, principalmente do marido. O Lourival disse que o marido não deveria ir até a polícia e assim ele fez. A investigação começa quando a filha dela vem até a delegacia para comunicar o desaparecimento”, explica a delegada.
O caso é investigado como extorsão mediante sequestro. Por enquanto, são usadas duas hipóteses: a de que Anic foi sequestrada e morta, e a segunda de que ela fugiu. Mas, para Cristiana, a segunda é pouco provável.
“A linha de investigação de uma fuga da Anic não foi descartada, mas ela não tem acesso a contas, dinheiro, e os depoimentos dão a entender que ela era uma mãe zelosa, muito protetora e que não passaria o Dia das Mães sem contato com os filhos”, completa.
A delegada faz ainda um alerta: para casos ou suspeitas de sequestro, a polícia deve ser notificada imediatamente. A família de Anic fez o contrário: negociou com os bandidos e só levou o caso para as autoridades 14 dias depois.
“Um detalhe pode mudar o rumo da investigação”, comenta Cristiana.
Por enquanto, quatro pessoas são réus nesse caso. Veja o que disse o MPRJ sobre cada um dos denunciados.
Anic de Almeida Peixoto Herdy
Reprodução/TV Globo
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Lourival Correa Netto Fadiga, o Gordo ou Fatica
É o principal arquiteto do plano criminoso. Atraiu Anic para o Shopping Pátio Petrópolis e a conduziu para um local onde ela desapareceu.
Também manipulou Benjamin Herdy, enviando mensagens falsas exigindo resgate e indicando contas bancárias para transferência dos valores.
Lavou dinheiro adquirindo um veículo de luxo e 950 aparelhos celulares.
Henrique Vieira Fadiga, filho de Lourival
Participou na compra dos dólares para o pagamento do resgate e recebeu pessoalmente parte das cédulas.
Esteve com o pai e a irmã na concessionária para a compra do veículo de luxo.
Maria Luíza Vieira Fadiga, filha de Lourival
Também esteve na concessionária e pôs o veículo de luxo em seu nome.
Para lavar o dinheiro, formalizou uma loja de conserto de celulares, que começou as atividades logo após o sequestro, e assumiu a negociação dos 950 celulares após a prisão do pai.
Manteve contato com o fornecedor paraguaio para recebimento dos aparelhos.
Rebecca Azevedo dos Santos, amante de Lourival
Manteve contato telefônico frequente com Lourival, especialmente nos dias críticos.
Esteve no mesmo local e horário que o sequestrador no dia do crime.
Assumiu parte das atividades criminosas após a prisão de Lourival, viajando para Foz do Iguaçu para resolver questões relacionadas aos 950 celulares adquiridos com o dinheiro ilícito.
Contribuiu para esconder o dinheiro do resgate e a ocultação de provas relacionadas ao crime.
Lourival Correa Netto Fadiga (C)
Reprodução/TV Globo
O que dizem os denunciados
A defesa de Lourival disse que não foi formalmente notificada da acusação contra o cliente, e que só irá se manifestar diante do juiz. E afirmou que os fatos investigados são meramente especulativos e baseados em suposições.
O advogado dos filhos dele disse que está trabalhando para que tudo seja esclarecido.
Já os advogados de Rebecca disseram que confiam que a inocência dela será comprovada, e manifestaram preocupação com a forma como a prisão foi decretada.
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