(FOLHAPRESS) – As ações da Petrobras desabaram 5,73% nesta quarta-feira (15), num tombo que representou perda de R$ 34,67 bilhões no valor de mercado da companhia, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter demitido o executivo-chefe da petroleira, Jean Paul Prates.
O mau desempenho da companhia também impactou a Bolsa brasileira, que fechou com recuo de 0,38%, aos 128.027 pontos, mesmo em dia de otimismo no exterior, com índices americanos batendo recorde. A Petrobras é uma das empresas de maior peso no Ibovespa.
A demissão de Prates do comando da Petrobras na noite de ontem ofuscou os aguardados dados da inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que vieram abaixo do esperado e reforçaram apostas de corte de juros em setembro pelo Fed (banco central americano).
Para o posto de Prates, Lula indicou a engenheira Magda Chambriard, que comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT).
A troca de comando foi vista com preocupação por economistas, que temem interferência política na estatal.
“O mercado nunca gosta de ingerência política sobre empresas com negócios em Bolsa. Não será diferente desta vez, até porque o Prates vinha se mostrando um conciliador entre mercado e política. O grande problema da empresa é refino: entra governo, sai governo, é sempre uma dor de cabeça”, avalia Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos.
Com Chambriard, a Petrobras terá o sexto presidente em três anos -um mau sinal para a petroleira. “Gera incerteza, e os investidores estrangeiros ficam ressabiados e vendem as ações.”
Pesa, ainda, a cena geopolítica no Oriente Médio, cujos conflitos têm afetado o preço do barril do petróleo. “Para piorar, teve o ‘vai-não-vai’ dos dividendos. É preciso endereçar essas questões com rapidez, vamos ver como a nova presidente vai agir”, diz Espirito Santo.
Prates sofreu forte processo de fritura nos últimos meses, após críticas de Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2024, medida que havia sido negociada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Defendida por Silveira e Rui Costa, ministro da Casa Civil, a retenção foi aprovada no início de março e derrubou o valor de mercado da estatal. O governo acabou recuando semanas depois e aprovou a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários em assembleia no fim de abril.
Na assembleia, o governo não só recuou como determinou estudos para que a Petrobras distribua os 50% restantes até o fim do ano, em movimento que tranquilizou o mercado e recuperou o valor das ações da empresa.
Prates ganhou sobrevida no cargo, mas a avaliação no Planalto era de que sua manutenção não duraria muito tempo.
Logo após a demissão, Prates mandou uma mensagem a assessores próximos. “Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa. Não creio que haja chance de reconsideração. Vão anunciar daqui a pouco”, escreveu.
Os dividendos são peça-chave do imbróglio para o mercado, de acordo com Flávio Conde, chefe de renda variável na Levante Investimentos.
“[A demissão de Prates] é um sinal ruim. Significa que a ala política venceu o embate. As ações caíram, porque boa parte dos investidores estão na Petrobras por conta dos dividendos, que estavam projetados em torno de 15% no ano. Com isso, a tese de investimento da Petrobras perde força e o risco de maior intervenção aumenta, não só pela troca de presidente, mas no plano de investimentos.”
Segundo a Genial Investimentos, Prates vai fazer falta. “Apesar de todas as desconfianças iniciais, sua gestão a frente da empresa pode ser considerada muito razoável. Em nossa opinião, o principal risco ao case diz respeito a expansão de investimentos em projetos pouco interessantes e suspensão do pagamento de dividendos”, escreveu Ygor Araujo, analista da corretora.
Para a EQI Investimentos, Magda Chambriard tem experiência comprovada no setor de energia, mas a análise é que a “capacidade de implementar mudanças radicais nos tópicos realmente importantes do caso de investimentos, especialmente no curto prazo, pode ser limitada, como a de qualquer outro CEO”.
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a Petrobras segue sofrendo ingerências preocupantes por parte do governo, a política de precificação não está pacificada e há defasagens acumuladas de preços que terão que ser revistas.
“Fica um cheiro no ar de gestão ao estilo de Dilma, algo que vai ser importante acompanhar nos próximos meses. Não foi um bom sinal, considerando o que parecem ser as motivações para a troca de Prates”, diz.
Já o professor da UnB José Luis Oreiro cita o que seriam duas possibilidades vistas pelo mercado sobre a companhia.
“A que parece mais provável é a disputa de espaço dentro do governo, a partir da tensão entre Prates e o ministro de Minas e Energia, que acabou ganhando essa briga. Nesse cenário, não haveria uma grande mudança na empresa”, afirma Oreio.
Uma segunda interpretação seria ter uma briga interna em torno da política de preços da petroleira. Prates pregava uma suavização dos preços e existe uma defasagem ante o mercado externo, completa o economista.
“As pessoas estavam acostumadas a ver a empresa como uma ‘vaca leiteira’, que saía distribuindo lucros. Durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, a Petrobras fez desinvestimentos, sendo que ela precisa diversificar seus investimentos para incluir as energias renováveis. Nesse sentido, Prates fez uma boa gestão.”
Sobre a reação da Bolsa, Oreiro diz que as oscilações de curto prazo são normais. “Se o governo se pautar por isso, vai ficar perdido, o mercado vive disso e assim ganha dinheiro. Basear mudanças no humor do mercado seria uma falta de sentido completo”, diz.
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