SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) -Moradores de um trecho da rua Henrique Schaumann, no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, estão sem luz há dois dias, após temporal que atingiu a cidade na última quarta-feira. Comida estragada na geladeira, elevadores dos prédios sem funcionar e falta de perspectiva da resolução do problema impactam a rotina de centenas de pessoas que vivem na região.
“Já perdi mais de mil reais em comida”. A cineasta Marina Vergueiro, 42, conta que as comidas da geladeira estragaram e que desde quarta-feira já gastou mais de R$ 500 em refeições que precisou comprar na rua. “A minha geladeira já era, não tem mais nada. Com certeza perdi cerca de mil reais em comida que estava congelada”, diz.
Moradora está sem trabalhar. Marina trabalha de sua casa, mas sem eletricidade, não consegue exercer o seu ofício. A cineasta também estava realizando obras no apartamento, previstas para acabar hoje, o que não aconteceu. Ela denuncia o descaso da Enel em solucionar o problema e questiona quem irá arcar com os prejuízos. “Já procuramos a Enel, abrimos vários chamados. Não adianta de nada”, lamenta.
Árvores que caíram no temporal ainda estavam na calçada em frente ao prédio de Marina na tarde de hoje. A moradora detalha que galhos só começaram a ser retirados pela Prefeitura de São Paulo após ela arrastar pedaços da árvore da calçada para a pista. “Apareceram depois que eu fechei a rua, quase apanhei de um motorista”.
Moradores de prédios da região também estão sem água. Sem eletricidade, a bomba de água do condomínio não funciona. No prédio de Marina, a administração do condomínio precisou alugar um gerador particular hoje para solucionar a falta de água nos apartamentos.
A publicitária Isabel Melo, 28, decidiu se mudar temporariamente com o marido. O casal também trabalha de casa, o que ficou inviável sem luz e sem água. Eles estão acomodados na casa da família.
“As comidas já estavam todas estragando e descongelando no freezer. Tive que colocar o que consegui em um isopor e trazer para a casa dos meus pais. O restante ficou lá estragando, vamos perder frutas, legumes, verduras, leite, sobras de comidas e todo o resto que estava na geladeira. Para conseguir trabalhar, tomar banho, lavar as mãos e fazer o mínimo da higiene pessoal optamos por ir para outro lugar com energia”, afirma. Todo o prédio dela está sem luz.
O advogado Diego de Moraes, 23, precisa tomar banho fora de casa todos os dias. Ele e a esposa também estão sem energia desde a quarta-feira. “A rotina é péssima, como moramos no oitavo andar temos de subir oito andares sempre que saímos, tomamos banho fora, e não conseguimos dar descarga. Também não conseguimos limpar a casa pois não há água e possuímos cachorros. Está insalubre”, critica. O casal também perdeu toda a comida congelada para o mês.
A Enel não cumpriu nenhum dos prazos repassados aos moradores. O UOL procurou a companhia para esclarecer quando a energia voltará na região, mas não houve retorno. Quase 48 horas após o temporal, ainda há 12.345 imóveis sem luz na capital.
A reportagem também procurou a prefeitura, mas não obteve resposta. O texto será atualizado caso haja retorno.
MAIS DE 300 ÁRVORES CAÍRAM DURANTE TEMPORAL EM SÃO PAULO
Defesa Civil recebeu 343 chamados por queda de árvore na capital, sendo 321 deles no centro e zona oeste. A Prefeitura de São Paulo informou que equipes de poda de árvore, limpeza e zeladoria estão nas ruas para fazer limpeza, desobstrução de vidas e retirada de galhos e árvores, além de 400 agentes de trânsito da CET para ajudar no trânsito.
Moradores de Pinheiros, Butantã e outros bairros da zona oeste foram os mais afetados. Imagens mostram que árvores de grande porte caíram sobre carros e fiação de postes. Parte do teto de um restaurante desabou na rua Artur de Azevedo, onde a queda de uma árvore também atingiu dois carros. Pelo menos três pessoas ficaram feridas.
No momento mais crítico do temporal, cerca de 170 mil imóveis ficaram sem energia elétrica. A chuva foi provocada por uma frente fria que chegou ao litoral paulista na última segunda-feira.
Centro também sofreu com chuva forte. Foram registrados vários pontos de alagamento e queda de árvores nas ruas Ana Cintra, Dona Veridiana, Alameda Barros e arredores. No Largo do Arouche, um chichá da Mata Atlântica de cerca de 30 metros se quebrou no meio e caiu em cima de um carro estacionado. Ela estava no local há cerca de 200 anos.
Taxista morreu após árvore cair em cima do carro dele. Elton Ferreira de Oliveira trabalhava no ponto de táxi da Avenida Senador Queirós e tinha acabado de pegar dois passageiros quando o táxi foi atingido por uma árvore. Os passageiros foram encaminhados a um hospital com ferimentos leves.