SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel amanheceu sob intensa greve nesta segunda-feira (2), no que é considerada a maior dissidência entre a população do país e o governo desde o início da guerra contra o Hamas, em 7 de outubro do ano passado.
Grande parte da economia israelense está paralisada nesta manhã, em movimento respaldado por sindicatos e empresas, que convocaram a paralisação ainda no domingo (1º), quando milhares de manifestantes bloquearam estradas em Jerusalém e Tel Aviv. O grupo também realizou uma manifestação em frente à residência de Netanyahu.
Os grevistas reivindicam um sinal positivo do governo pelo cessar-fogo no conflito, que se aproxima de um ano. O objetivo das manifestações é também pressionar o governo a trazer de volta os reféns israelenses ainda detidos pelo Hamas em Gaza.
O apelo pela greve partiu de Arnon Bar-David, cujo sindicato, Histadrut, representa centenas de milhares de trabalhadores. Empresários do setor de alta tecnologia, geralmente contrários a paralisações, apoiam o movimento.
As manifestações começaram após o anúncio, no domingo, de que seis reféns israelenses foram mortos. Estima-se que algo em torno de 101 permanecem detidos.
“Precisamos chegar a um acordo [sobre o retorno dos reféns sobreviventes]. Um acordo é mais importante do que qualquer outra coisa”, disse Bar-David em entrevista coletiva. “Estamos recebendo sacos para cadáveres em vez de um acordo.”
Informações publicadas pelo The New York Times dão conta de que a maioria das escolas, muitas empresas e o maior aeroporto do país devem permanecer fechados.
Os defensores do cessar-fogo e críticos de Netanyahu argumentam que um acordo pelo fim da troca de ofensivas poderia ter salvado as vidas dos seis mortos.
O Fórum das Famílias de Reféns, que representa familiares de detidos em Gaza, disse que a morte dos seis foi o resultado direto do fracasso de Netanyahu em garantir um acordo para parar os combates e trazer os seus entes queridos para casa.
“Todos foram assassinados nos últimos dias, depois de sobreviverem a quase 11 meses de abusos, tortura e fome no cativeiro do Hamas”, afirma o grupo em comunicado.
Gil Dickmann, primo de Carmel Gat, cujo corpo estava entre os que foram devolvidos, instou os israelenses a pressionarem o governo em uma postagem no X (ex-twitter, suspenso no Brasil).
“Saiam às ruas e fechem o país até que todos voltem. Eles ainda podem ser salvos”, escreveu.
Israel acredita que dos 101 reféns ainda detidos em Gaza, um terço já não esteja vivo.
Netanyahu e muitos membros de seu governo, bem como os seus apoiadores, continuam a se opor a qualquer acordo de reféns que liberte militantes do grupo terrorista das prisões israelenses e ajude a manter o Hamas no poder.
Numa tentativa de bloquear o avanço do movimento, o ministro de Finanças, Bezalel Smotrich, escreveu à procuradora-geral Gali Baharav-Miara pedindo com urgência ao Tribunal do Trabalho de Israel uma liminar contrária à greve.
Smotrich argumentou que uma greve prejudicaria a economia e que não tinha base jurídica, uma vez que o seu principal objetivo é influenciar decisões políticas significativas do governo em questões relacionadas com a segurança do Estado.
“Essas questões não são objeto de greve por parte de organizações trabalhistas e não há conexão entre elas e as relações trabalhistas em Israel”, escreveu em sua carta a Baharav-Miara.
A Associação dos Fabricantes de Israel disse que o governo falha em seu “dever moral” de trazer os reféns de volta com vida.
“Sem o regresso dos reféns não seremos capazes de acabar com a guerra, não seremos capazes de nos reabilitarmos como sociedade e não seremos capazes de começar a reabilitar a economia israelense”, declarou o chefe da associação, Ron Tomer.