Gavião-gato invade apartamento em Petrópolis e tem voo de volta à natureza registrado por morador

Por sobrevoar grandes alturas e se deslocar facilmente entre a vegetação, a ave geralmente é observada mais de perto com o uso de equipamentos mais potentes. Vídeo mostra voo de gavião-gato depois da ave invadir apartamento em Petrópolis
Era início de tarde quando um barulho alto de vidraça quebrando assustou os moradores de um condomínio residencial em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Era um gavião-gato que invadiu um dos apartamentos pela janela.
“Algumas crianças estavam na piscina e observaram um animal voando baixo. Poucos segundos depois, ouviram um barulho de vidro quebrando e conseguiram ver o mesmo adentrando a casa. Ele voou contra o vidro da janela da sacada, que quebrou”, contou um dos vizinhos, Pablo Rodrigues Martins.
A cena inusitada aconteceu nesta segunda-feira (22), no bairro Retiro. Uma força-tarefa foi montada para retirar o animal de dentro do apartamento em segurança.
Morador registrou voo de gavião-gato em Petrópolis
Pablo Rodrigues Martins/Arquivo pessoal
Pablo contou que a proprietária não estava em casa e os vizinhos tiveram que avisá-la do incidente.
“Eu liguei pra ela e avisei que um animal entrou na casa dela e quebrou o vidro. A dona da casa mora no Rio, por isso foi preciso entrar na residência e, com a ajuda de uma vassoura, um colega foi tentando empurrar a ave até a sacada, onde finalmente ela conseguiu ser libertada e retornar à natureza”.
O condomínio é cercado de uma área arborizada e é comum avistar muitas aves, mas não essa espécie de rapina.
Após invadir apartamento em Petrópolis, gavião-gato tem voo de volta à natureza registrado
Pablo Rodrigues Martins/Arquivo pessoal
O g1 mostrou as imagens para o veterinário Felipe Facklam, especialista em animais silvestres, que identificou que a ave é um gavião-gato, também conhecida como gavião-de-cabeça-cinza. É comum em regiões da mata atlântica e não costumam sobrevoar áreas urbanizadas.
“O gavião pode ter avistado algum animal dentro do apartamento. Uma calopsita ou um hamster. Ou ainda ter visto um reflexo de uma outra ave passando no vidro. Ele não consegue identificar se o animal está dentro ou fora da vidraça e acabou batendo. Essa ave de rapina não ataca humanos”, explica.
Ele destacou, ainda, que as aves não enxergam o vidro e por isso alguns acidentes podem acontecer.
“Muitas aves têm dificuldade de perceber o vidro e acabam batendo ou atravessando a vidraça. Em casos de passarinhos mais frágeis, eles acabam até morrendo pois sofrem traumatismo craniano devido à colisão. A gente até orienta quem mora em áreas assim com muitos pássaros que coloque adesivos para que o animal consiga identificar aquilo como um obstáculo”, orienta.
Depois do episódio, a ave se abrigou em uma árvore e depois voou e sumiu em meio à natureza.
“Foi uma cena tão bonita. Ela alçando voo e subindo em direção à árvore. Eu fiquei filmando e não poderia guardar essas imagens só pra mim. Uma cena que mostra o quanto a natureza é incrível”, descreve Pablo.
Sobre o gavião-gato
Para registrá-lo durante o voo é necessário um binóculo ou máquinas fotográficas potentes
Thiago Arruda/Arquivo Pessoal
Distribuído por todo o Brasil, com ocorrência também entre o México e o Paraguai, o gavião-gato ou gavião-de-cabeça-cinza é adepto às áreas de floresta, matas ribeirinhas, matas secas e cerradões.
Com nome científico Leptodon cayanensis, é uma das 96 aves de rapina que ocorrem no país e pode atingir de 46 a 54 centímetros. Destaca-se também a barriga e o peito brancos, as costas negras e as pernas, fortíssimas, em tom cinza-azulado.
Embora possua um tamanho considerável para ziguezaguear na mata sem trombar nas árvores, o gavião-de-cabeça-cinza voa com destreza e movimenta-se com facilidade pela vegetação.
Apesar da ampla distribuição no Brasil, a ave não é vista com frequência. Isso porque, mesmo que de médio porte, é capaz de voar por dentro da mata e se movimentar com facilidade entre a vegetação, dificultando o flagrante dos observadores de aves.
Para registrá-la durante o voo é necessário um binóculo ou máquinas fotográficas potentes, já que costuma sobrevoar grandes alturas.
Nome Científico: Leptodon cayanensis
Família: Accipitridae
Ordem: Accipitriformes
Distribuição: Desde o México, passando por Peru, Chile, Bolívia, Norte da Argentina e Brasil (em regiões florestadas, inclusive no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul).
Alimentação: Grandes insetos (marimbondos, cigarras, vespas e abelhas, por exemplo), além de aves, ovos e anfíbios.
Reprodução: A reprodução desta espécie ainda é pouco conhecida (Bierregaard 1995). Os ovos são geralmente manchados.
Conservação: Criticamente ameaçado em alguns Estados.