Nome da política carioca tenta voltar à vida pública após prisão e terá como adversário um aliado de seu mentor político, a quem sucedeu no Guanabara
Afastado da política há quase seis anos, período em que chegou a ficar preso por 13 meses, enfrentou processos da Lava-Jato e atuou discretamente nos bastidores de campanhas de amigos, o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) tenta voltar à vida pública no local onde sua trajetória começou, Piraí, no Sul Fluminense. Para a disputar a prefeitura contra o ex-aliado Arthur Tutuca (PRD), o emedebista reuniu uma coligação com dez partidos, incluindo o PT de Lula. Já Tutuca tem o apoio do também ex-governador Sérgio Cabral, que de amigo e mentor político se tornou desafeto de Pezão.
A expectativas na campanha de Tutuca é de que Pezão não possa concorrer, já que é considerado inelegível pela Justiça Eleitoral pela condenação por improbidade administrativa referente a repasses para a Saúde e Educação quando era governador. O emedebista tenta derrubar a sentença na Justiça para registrar candidatura ou disputar o pleito por força de liminar.
Pezão aparece à frente de Tutuca na pesquisa Ipec divulgada na quarta-feira, com 54% das intenções de voto contra 29%. Segundo levantamento encomendado pelo jornal “Aqui”, 7% indicaram intenção de votar branco ou nulo e outros 10% responderam não saber quem escolher.
Além de MDB e PT, a aliança de Pezão reuniu siglas como PSDB, PDT, PSD, PRTB, PSB, Solidariedade, Republicanos e Podemos. Já com Tutuca estão PRD, União, Avante, Agir e PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador do Rio Cláudio Castro. Apenas Pezão e Tutuca — irmão de Gustavo Tutuca, secretário estadual de Turismo — concorrem.
Pezão: “Deixa ele”
Cabral tem feito questão de demostrar sua torcida por Tutuca através de curtidas e comentários em postagens do candidato nas redes sociais.
—Torço e aconselho o Arthur por acreditar que será o melhor para Piraí — afirma Cabral, que fingiu não conhecer Pezão quando foi questionado na rede se a escolha de seu candidato teria relação com rejeição ao antigo vice: — Quem? — questionou.
Pezão diz não lamentar:
— Deixa ele, todo mundo pode escolher quem quiser. Ele já é grandinho para saber quem acha melhor — comenta em tom descontraído.
Cabral foi governador do Rio por dois mandatos, a partir de 2006. Na época, Pezão foi seu vice, e assumiu o governo do estado em 2013, quando o antecessor renunciou. Em 2014, Pezão foi eleito. Cabral foi preso em 2016 por suspeita de comandar uma organização criminosa que fraudava licitações e cobrava propina de empreiteiras. Já Pezão foi preso em dezembro de 2018, durante o exercício do mandato, acusado de integrar o grupo de Cabral. Pezão foi solto um ano depois, em dezembro de 2019.
A relação de amizade dos dois azedou, segundo interlocutores, enquanto a ex-mulher de Cabral Adriana Ancelmo esteve presa. Cabral, também na cadeia, enviou recados para o então governador Pezão pedindo melhoria nas condições da cela de Adriana. O pedido, no entanto, não foi atendido. Os dois se reencontraram pela primeira vez durante o velório do ex-governador Francisco Dornelles, em agosto de 2023, quando Cabral fez questão de passar ao lado de Pezão e não cumprimentar o antigo amigo.
Pezão e a família Tutuca tiveram aliança por quase 30 anos. Arthur Henrique Gonçalves Ferreira, o primeiro a ser conhecido pelo apelido Tutuca e pai de Gustavo e Arthur, prefeito de Piraí por quatro mandatos. Ainda nos anos 1990, Pezão, então vereador, se aproxima do gestor e se candidatou-se à sucessão.