Flávio Dino suspende mais de 4 bilhões de emendas parlamentares por falta de transparência com o destino do dinheiro

Planalto sabia da manobra e pressionou para que as emendas fossem pagas porém Dino impôs condições diante do “jeitinho brasileiro” que Lira quis adotar

O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que o governo Lula concordou com o golpe final do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara. Lira transformou as emendas feitas pelas comissões permanentes da Casa em “emenda de líderes” e, assim, driblou decisões do Supremo Tribunal Federal que exigem transparência no processo. As “emendas de líderes” servem para ocultar o nome dos verdadeiros solicitantes das emendas.

Em conversa por WhatsApp, ao comentar sobre a manobra de Lira, que carrega várias ilegalidades, Guimarães afirmou: “Tudo combinado com o governo.” O líder do governo não quis detalhar como se deu a combinação entre a Câmara e o Palácio do Planalto, mas é certo que ninguém foi surpreendido com o esquema.

A história começa na terça-feira, 10, na reunião de líderes da Câmara. Nesse momento, Lira assuntou sobre a suspensão das comissões temáticas até o fim do ano e, dois dias depois, efetivou a medida: suspendeu as reuniões — e aplicou o golpe final do seu mandato. Primeiro, Lira coordenou o envio ao governo de um ofício assinado por dezessete líderes, com 5 449 indicações de emendas de comissão, cujos valores somam 4,2 bilhões de reais, anulando parte do que as próprias comissões haviam determinado. Por meio desse ofício, redirecionou 73,8 milhões de reais para Alagoas, retirando de outros destinos. Com isso, dos 4,2 bilhões, 479,7 milhões de reais ficaram para seu estado, Alagoas, que se tornou o campeão nacional de emendas. O restante foi dividido entre os demais 26 estados. Agora, sabe-se que, além de Lira e dos dezessete líderes, a manobra contou com a conivência do governo.