JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Emmanuel Macron escolheu um centrista para tentar amainar a crise política francesa. Nesta sexta-feira (13), em Paris, anunciou François Bayrou para suceder Michel Barnier, o mais breve premiê desde 1958, que durou apenas 90 dias no cargo.
O nome do quarto primeiro-ministro deste governo Macron foi divulgado após algumas horas de suspense. Bayrou, 73, compareceu ao Palácio do Eliseu no começo da manhã. Veterano da política, já era um dos cotados nos últimos dias para a complexa missão de tocar o governo em meio a uma Assembleia Nacional polarizada.
Segundo a imprensa francesa, porém, Macron havia telefonado para Bayrou para informá-lo de que ele não seria nomeado primeiro-ministro. O político então seguiu para o Eliseu, onde a conversa teria ficado “tensa”, na descrição dos jornalistas, quando o presidente lhe ofereceu o posto de número do próximo governo. De acordo com o Le Monde, o escolhido seria Roland Lescure, macronista de primeira hora. Pouco depois de a notícia entrar no ar no site do jornal, o comunicado com o nome de Bayrou acabou sendo divulgado.
Também eram cotados para o cargo Bernard Cazeneuve, o último primeiro-ministro do presidente François Hollande, entre dezembro de 2016 e maio de 2017, e Sébastien Lecornu, senador e ministro dos Exércitos (o equivalente a ministro da Defesa), um dos nomes mais fiéis a Macron. Já Jean-Yves Le Drian, ex-ministro das Relações Exteriores, declarou à imprensa na Bretanha que chegou a ser sondado por Macron.
A nomeação encerra oito dias de governo demissionário neste mês de dezembro. No total, desde 9 de junho, quando Macron tomou a controversa decisão de dissolver a Assembleia após a ascensão da direita nas eleições parlamentares europeias, foram 75 dias de governo perdidos, algo sem precedente na história da Quarta e Quinta Repúblicas.
Nesses períodos, a administração pública funcionou de forma precária, com obras paralisadas e pagamentos adiados. O planejamento do orçamento de 2025, que Barnier tentou aprovar contornando o Congresso, manobra constitucional que provocou uma moção de desconfiança e o fim do seu governo, foi prejudicado pela falta de decisões anteriores.
No último verão europeu, a França recebeu os Jogos Olímpicos em Paris com um gabinete demissionário.
A opção de Barnier pelo “49.3”, como é chamada a manobra, era inevitável porque o então premiê não conseguiu convencer a líder da ultradireita, Marine Le Pen, a apoiar o projeto, que previa economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 115 bilhões). Além da instabilidade política, há uma crise fiscal no país. Os títulos da dívida francesa encontram-se em patamar semelhante aos da Grécia, algo antes impensável para a segunda economia da Europa.
Prefeito de Pau (pronuncia-se “pô”), Bayrou é um centrista em um país polarizado entre esquerda e direita. Nunca foi considerado um pretendente viável nas três vezes em que tentou ser presidente, apesar de um honroso terceiro lugar em 2007, com 18,6% dos votos. Com a ascensão de Macron ao poder, assumiu o papel de conselheiro próximo do jovem presidente. Foi ainda ministro da Educação entre 1993 e 1997, em gabinetes de direita.
“A principal corrente da vida política está no centro. Esse é o movimento que os franceses estão esperando”, defendeu ele em meados de outubro, em conversa com jornalistas.
Macron havia prometido o anúncio na terça-feira (10), quando convidou líderes partidários para conversas no Eliseu. A eles, o presidente disse que queria nomear um primeiro-ministro em 48 horas. O prazo expirou na quinta-feira, mas foi então estendido para a manhã desta sexta. “É para hoje ou amanhã?”, provocou a emissora BFM-TV.
Os extremos, à esquerda e à direita, não participaram das reuniões. Segundo alguns dos participantes, Macron pregou a ideia de um “governo de interesse geral”.
A antecipação das eleições em junho, um equívoco de Macron, segundo seus críticos, deixou a Assembleia Nacional sem uma maioria clara e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e ultradireita.
Nos últimos dias, o presidente da República tentou costurar um pacto de não-censura, principalmente com siglas da esquerda. Na quarta-feira (11), o primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, rejeitou publicamente a opção de Bayrou, pedindo um primeiro-ministro de seu espectro político. Nesta sexta (13), a sigla afirmou antes mesmo da confirmação do centrista que apresentará uma moção de censura contra seu nome.
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